
Gostaria hoje de dizer algumas palavras para vocês. Desde que me formei em psicologia, venho falando sobre o amor, a sexualidade e relacionamentos, mas ultimamente tenho me dedicado muito em conhecer as dinâmicas de vida do público LGBTQIAP+. De um tempo para cá tenho percebido que as vivências da nossa comunidade são atravessadas por experiências que dizem respeito a nossa maneira de ser. Ainda que cada um tenha a sua singularidade, podemos pensar que algumas experiências são comuns a todos nós.
Algumas delas afetam de maneira desagradável o nosso modo de ser no mundo e exigem de nós resiliência e uma constante adaptação às regras do jogo.
Tenho visto que a sociedade não tem sido tão amável quando deveria com a diversidade.
Tenho visto que algumas pessoas ainda sofrem preconceito e discriminação em função da identidade ou orientação sexual, principalmente dentro dos seus lares.
Tenho visto pessoas com dificuldade em se assumir quem são porque o mundo se mostrou um lugar inseguro para que possam demonstrar seus afetos ou assumir suas identidades conforme desejam.
Mas também tenho visto progressos.
Tenho visto pessoas mobilizadas em fazer o melhor que podem para todos tenham o direito de conviver em sociedade, demonstrar afetos e construir seus lares.
Tenho visto parcerias amorosas sendo construídas com muito afeto.
Tenho visto adoções de pais e de mães que tem tanto amor para dar que não cabe em uma casa sem crianças e por isso decidem povoar de alegria seus lares.
Tenho visto as pessoas se assumirem cada vez mais cedo, muito diferente do que ocorria há dez, vinte ou trinta anos atrás.
Tudo isso me faz perceber que estamos evoluindo, apesar de entender que a evolução não é linear e sempre existe um mal à espreita para tentar barrar as nossas conquistas ou trazer retrocessos, como essa tentativa de invalidar o casamento homoafetivo.
Dentro da minha área de atuação, a psicologia clínica, é fato estudado que pessoas LGBTQIAP+ são mais vulneráveis ao adoecimento psíquico, sofrem com a baixa autoestima e correm mais risco de autoextermínio. Não sou eu que digo isso, são inúmeros artigos científicos que versam sobre o tema.
Essa realidade é fruto de todo preconceito que já existiu, existe e perpassa pelos sermões de instituições que deveriam pregar pelo amor e pela paz. São instituições públicas, privadas e ainda, a primeira instituição com a qual convivemos, a família. A nossa vivência ainda é atravessada por relações que nos tornam vulneráveis.
Por isso que venho hoje dizer a vocês que se cuidem e cuidem dos seus. Cuidem agora para continuar caminhando e tentar garantir um envelhecimento mais saudável e rico em experiências.
Com afeto,
Rodrigo Pazzinatto
Psicólogo CRP 04/60681